O segredo

Levei muito tempo afastada do fascínio do alçapão, até que um dia o avô foi lá a cima buscar uma bússola para um dos barcos, e esqueceu a chave no cadeado.

A avó tinha ido ao mercado , as tias não estavam e eu parece que ouvia o chamado; – Vem… vem ver, é a tua oportunidade. Vá lá… não tenhas medo.

Com as pernas a tremer, subi o primeiro degrau, as minhas pernas eram curtas e o espaço entre as escadas era muito alto.

A tremer e a suar, consegui chegar ao ultimo degrau. Depois tive que me içar para conseguir subir.

Finalmente… que sensação. As traves mestras que sustinham o telhado estavam cobertas de teias de aranha, e apenas a luz ténue de duas telhas brancas deixavam vislumbrar os objectos. Espalhados pelo chão estavam cordas de prender os barcos, uma ancora enferrujada, redes, um barco de borracha e ao fundo cheio de pó um velho baú. Seria ali a casa das ratazanas?

Cheia de receio, mas com enorme curiosidade abri o baú. Dentro cuidadosamente embrulhada em papel manteiga estava uma arma e caixas de munições, Assustei-me. Soube instintivamente que aquilo servia para matar.

O alçapão

Ao lado da cozinha,havia uma despensa onde eram guardados os víveres da casa. Mas olhando para cima existia uma abertura no tecto que estava fechada a cadeado.
 
– O que é aquilo avó?

Aquilo é um alçapão, onde moram enormes ratazanas, que te vão comer as mãos se alguma vez tentares lá entrar sem que eu saiba.
 
– Como ela diria… cruzes, credo, que medo.