A tia Maria Vacas, era a pessoa mais doce calma e conformada que eu conheci. Tinha uma forma peculiar na conjugação dos verbos, que lhe dava uma maneira de falar engraçada. Por exemplo: – Viste… ela dizia “Vites”… Caíste… ela dizia “caítes” e por aí fora. Eu achava muita graça e gostava muito dela.
Os meus pais dividiram a casa com eles e sempre que eu visitava a minha mãe, lá estava ela agarrada ao tanque lavando para fora e passando com um pesado ferro a carvão, a roupa que garantia a subsistência de sua Família, uma vez que a vida dos homens do mar depende ainda hoje, de apanharem ou não peixe.
Atão Talininha viétes ver agente?
Vim sim tia Maria e hoje durmo cá; dizia-lhe eu toda contente.
Atão depois do jantar vamos todos jogar às cartas.
E jogavamos, ao burro em pé e à bisca. Se houvessem ovos a minha mãe fazia fatias douradas com canela e açúcar que a miudagem acompanhava com chá e o meu Pai e o Tio Américo com umas belas pingolas.
No outro dia era brincadeira certa com os meus primos e a andar num triciclo todo de ferro, muito incómodo que tinha sido do meu irmão, para grande desespero da vizinha de baixo.
Quando a Avó no outro dia me vinha buscar, era um berreiro. Não quero ir contigo Avó… quero ficar aqui… com a minha mãe; dizia-lhe eu a chorar.
Ainda hoje tenho esta mágoa no coração. Porque é que a minha mãe não dizia:
– Desculpe… não vê que ela não quer… a minha filha não quer ir, por isso vai ficar aqui na minha casa, porque eu sou sua mãe.
Mas não, ela não dizia nada, era como se entre elas houvesse um acordo tácito, e eu tinha sempre que ir com a Avó.
Tia Maria onde estiveres, obrigada por esta tua fantástica fotografia me ter trazido à memória estes fragmentos da minha vida.
Não à dúvida que “RECORDAR É VIVER”.