Gostava de se sentar nos bancos do jardim que ladeavam o largo da princesa, muito perto de sua casa.
Era um sitio muito fresco rodeado de árvores. No centro o chafariz, deixava correr de quatro bicas agua fresca e cristalina.
Ouvir o som da água a correr, o chilrear dos pássaros e ver as gentes que volta e meia se apeavam na paragem do eléctrico, aliado ao sabor do fumo de um cigarro, deixavam-no de bem com a vida.
Mas lidava muito mal com a frustração e quando a minha mãe não lhe aceitou o pedido de namoro, foi para a taberna “Cova Funda”, que ficava na parte de baixo do chafariz e apanhou um grande pifo.
Depois foi sentar-se na beira do chafariz da princesa a carpir as suas mágoas.
Foi quando um policia se aproximou e lhe disse:
– O senhor não pode estar aí… pode cair e afogar-se!
– E o que é que você tem com isso?
– Já lhe disse… tem que sair daí! Vá para casa…
– Para casa vá você… eu só saio daqui quando me apetecer, até lhe canto uma cantiga…
Daqui não saio daqui ninguém me tira
Daqui não saio daqui ninguém me tira
Daqui não saio daqui ninguém me tira
Daqui não saio daqui ninguém me tira
– O senhor está a gozar a autoridade, olhe que lhe dou ordem de prisão; disse o guarda agarrando-o pelo braço…
– Tire daí a manápula senão a coisa azeda!!!
E a coisa azedou mesmo, quando o guarda o puxou para que saísse. Jogou-lhe a mão à farda e arrancou-lhe os botões todos. Depois pegou no senhor guarda e deu-lhe banho no chafariz.