A minha mãe

Maria Rosa (Mãe)

 

Era uma rapariga morena, de cabelos pretos compridos e ondulados. Os seus olhos verde escuros, tinham os seus mistérios. Na boca bem desenhada sempre um sorriso, mas o que mais sobressaía era o peito, generoso e empinado.

Chamava-se Maria Rosa e era a filha mais nova do ti Zé Ramos e da senhora Adelina.

Moravam na rua das Hortas, e o ti Zé Ramos trabalhava com o filho Américo no barco do meu avô.

A ” Rosinha dos limões ” como o meu pai lhe chamava, estava sempre lá em casa.

Era a grande amiga da minha tia Susana.

A morte

Procurou os melhores médicos em pneumologia. Fez todos os medicamentos recomendados. Entretanto ela abortou, e os médicos recomendaram um sanatório. Assim se fez.

Segundo a minha mãe ela estava a desistir. Queria ver o Jorge, mas isso já não era possível.

O Jorge morreu da doença, mas também de pena e de saudade. Com medo de lhe agravar o estado de saúde ninguém lhe disse nada.

Ela disse que não lhes perdoava essa atitude.

Morreu na casa de Algés nos braços do pai.

A carta anónima

A carta dizia assim:

Senhor José se quer ter filha por mais uns anos, trate dela.
O marido tem tuberculose e nunca lhe disse nada.

Assinado
Uma amiga.

 

Diz quem viu, que o meu avô correu desesperado até à construtora para falar com o Jorge, que lhe disse que sim, que por tanto a amar e não querer perde-la não teve coragem de lhe dizer a verdade.

Não havia tempo a perder. Foi a casa da filha, contou-lhe a verdade.

Pediu-lhe que fizesse as malas, era para o bem dela e da criança.

E o Jorge pai?
– Não gasto um tostão com esse bandido.

A partir daí ela nunca mais viu o Jorge.

Susana & Jorge

Aos vinte anos Susana conheceu Jorge. Trabalhava numa firma de construção. Era traçador.

Ele ganhava bem para a época, e era da idade dela, por isso o meu Avô embora o achasse muito enfezado e sempre com uma tosse embirrante, não teve como dizer que não.

Namoraram cinco anos.

Decorriam tempos difíceis, época da segunda guerra mundial.

Foi quando compraram a moradia de Algés e lá se instalaram.

E foi na antiga igreja de Algés que o meu Avô levou ao altar a sua amada filha Susana.

 

Susana & Avô

Susana

Tios & Tias

 

Foi na casa da rua das Hortas em Pedrouços, que o meu Avô cimentou a sua vida.

Foi lá que comprou o primeiro barco, e foi lá que lhe nasceram os filhos… três rapazes e três raparigas.

Susana, a rapariga mais velha foi para ele uma mais valia.

Era o seu aí Jesus.

Quando chegava a casa vindo do mar, era a ela que entregava o dinheiro. Era a administradora.

Para além de obediente e boa dona de casa, Susana era uma excelente modista. Era ela quem fazia os fatos e vestidos de toda a família, e também de minha mãe que foi a sua melhor amiga.

A minha Avó já dava sinais de não estar a aguentar a pressão. A depressão começava a instalar-se.

A Mulher e a Sardinha quer-se pequenina.

O meu avô avaliava as mulheres como se de peixe se tratasse.

Eu era a Pescadinha; uma mulher feia e metediça era uma ” Uge” (raia gigante com ferrão na ponta do rabo); uma mulher muito bem feita, era “Pescada do Alto”; Uma mulher com boca grande era “uma boca de Charroco” e com olhos grandes era uma “Boga”. Havia ainda “a Cavalona” que era uma mulher atiradiça.

Mas a personificação da mulher perfeita era a sardinha, que se queria pequenina e saltitante.

Maria Isabel era uma rapariguinha loira, com olhos cor do mar em dia de sol. Baixinha e muito remexida, era a filha mais nova do Senhor Costa.
Foi amor à primeira vista, ela parecia uma sardinhita prateada.

– Queres casar comigo Maria?

Casou com ela, e deixou-a grávida, a viver na casa da mãe.

Chegado a Lisboa, arrendou uma casa na rua das Hortas, no número dezoito, em Pedrouços, perto da doca com vista para a Torre de Belém.

Foi nessa casa Que nasceu Susana, a primeira filha do casal. A tia “Xana”.