A Ida à praia

 

Nos fins dos anos 20 a praia de Algés era muito concorrida.

Diversas barraquinhas de madeira pintadas de cores vivas, animavam a praia.

Alugavam-se ao dia, e serviam para proteger do sol e para as pessoas vestirem os seus fatos de banho.

Quem não tinha fato de banho, levava uma muda de roupa mais usada, e tomava banho vestida.

Os fatos de banho não podiam ter menos de quinze centímetros acima do joelho.

Na foto: em baixo a tia Licas, à esquerda a minha mãe à direita a tia Xana e em cima a tia Adelina.

A prenda

Passaram dois dias sobre o meu terceiro aniversário, quando o avô me foi acordar.

Salta da cama pescadinha, vamos buscar a tua prenda… está no quarto azul. Ensonada, corri para o quarto azul.

Em cima de dois bancos, mesmo perto da minha cara, estava uma caixa comprida, atada com um enorme laçarote de cetim. – Vamos abre o teu presente; disseram as tias. Eu puxei uma ponta do laço, e elas ajudaram-me a abrir a caixa.

A Zázá surgiu… estava a dormir, mas quando lhe peguei abriu os seus olhos azuis e disse: – Papá Mamã.
 
– Avô ela fala. Fala e anda.
– Que linda .

As Pugilistas

Hoje acordei com as tias à pancada no meu quarto. Puxavam os cabelos uma à outra, batiam-se e gritavam agarradas aos meus vestidos.

Este fui eu que o fiz… e comprei-o com o meu dinheiro, a menina ainda não o tinha estreado e tu saíste com ela como se fosses tu que o tivesses feito. Isso é que era bom… agora não volta a acontecer porque eu vou guardá-los no meu quarto.

E tu minha cabra, julgas que eu não sei que levas a menina para encobrires as fodas que vais dar ao domingo com o teu namorado. A miúda chega ao carro e adormece; – e tu estás como queres.

Mas deixa que eu vou abrir os olhos ao pai! – Ai se vou.

Quando me viram sentada na cama a olhar para elas disseram-me: – Isto não se conta à avó, ouviste… senão nunca mais te levamos a passear.

A Zázá

No dia do meu terceiro aniversário corria o ano de l950, Era inverno e estava frio. A avó tinha ido com as tias aos Armazéns do Chiado comprar a minha prenda. Em casa ficou o tio Victor com a incumbência de me dar o almoço. A tia Licas disse: – lá para o meio dia coze a pescada para a menina. Depois veio o amigo dele comeram a pescada e falaram que a namorada do tio Victor mijava ossos. Então ele fez para mim massa pevide temperada com muita banha e deu-ma à colherada. Depois senti-me muito mal e vomitei. Acho que ao fim de uns dias ainda tinha massa a sair-me do nariz.

A avó e as tias chegaram á noite com uma caixa enorme, mas eu sentia-me tao mal que nem liguei, por isso fecharam-na á chave no quarto azul.