A minha mãe

Maria Rosa (Mãe)

 

Era uma rapariga morena, de cabelos pretos compridos e ondulados. Os seus olhos verde escuros, tinham os seus mistérios. Na boca bem desenhada sempre um sorriso, mas o que mais sobressaía era o peito, generoso e empinado.

Chamava-se Maria Rosa e era a filha mais nova do ti Zé Ramos e da senhora Adelina.

Moravam na rua das Hortas, e o ti Zé Ramos trabalhava com o filho Américo no barco do meu avô.

A ” Rosinha dos limões ” como o meu pai lhe chamava, estava sempre lá em casa.

Era a grande amiga da minha tia Susana.

O pedófilo

O quarto verde era o maior de todos os quartos daquela casa. Foi para lá que a tia Adelina e o “Pico” foram viver, quando se casaram. O avô comprou-lhes a mobília de quarto, e passaram a comer lá em casa.

O “Pico” arranjou trabalho na fabrica Braço de Prata, era uma fábrica, de armas e munições.

À tarde quando vinha do trabalho, trazia-me sempre ou um chocolate ou um pequeno brinquedo ou livros. Depois sentada no seu colo, eu vivia as histórias que ele me contava. Os três porquinhos, a branca de neve, o soldadinho de chumbo etc…. etc… etc… .

Quando me deixava dormir no cinema ou na esplanada, era ele que me trazia para casa ao colo. Dava-me banho, deitava-me e ensinou-me a importância de ler.

Um dia pediu-me para ir brincar com ele às escondidas para a cave.

O ataque de histerismo

A avó também pagou pela ira do avô. Disse-lhe coisas terríveis e chamou-lhe maluca imprestável. Depois saiu.

As tias, os tios, o meu pai e a minha mãe que entretanto tinham chegado, tentavam que ela se acalmasse. Coitada o sistema nervoso dela era muito frágil.

Quando ela se acalmou voltaram-se todos contra a tia Adelina, que por sua vez entrou em histeria e gritando em altos berros dizia:
 
– Vocês não me compreendem … eu quero PICHA!!! PICHA!!! PICHA!!!

Todos se riram.

A Cruz – Azul

O “Pico” continuava a sangrar, por isso chamaram um enfermeiro da Cruz Azul, que lhe suturou a cabeça com três pontos.

Pelas duas horas da tarde, o avô chegou da faina. Vinha com cara de vendaval.

Na mesa da marquise, poisou o cabaz de vime, com o peixe acabado de pescar e dirigiu-se com rapidez para o quarto da tia Adelina. Aterrorizada ela escondeu-se atrás do “Pico”, que estava branco como a cal. Com a mão esquerda empurrou o “Pico” que caiu na cama, e com a direita deu na tia Adelina uma chapada monumental.

Ao “Pico” disse-lhe; – Grande sorte, se tivesse sido eu a dar-te essa pancada, eras um homem morto.