A morte

Procurou os melhores médicos em pneumologia. Fez todos os medicamentos recomendados. Entretanto ela abortou, e os médicos recomendaram um sanatório. Assim se fez.

Segundo a minha mãe ela estava a desistir. Queria ver o Jorge, mas isso já não era possível.

O Jorge morreu da doença, mas também de pena e de saudade. Com medo de lhe agravar o estado de saúde ninguém lhe disse nada.

Ela disse que não lhes perdoava essa atitude.

Morreu na casa de Algés nos braços do pai.

A Ida à praia

 

Nos fins dos anos 20 a praia de Algés era muito concorrida.

Diversas barraquinhas de madeira pintadas de cores vivas, animavam a praia.

Alugavam-se ao dia, e serviam para proteger do sol e para as pessoas vestirem os seus fatos de banho.

Quem não tinha fato de banho, levava uma muda de roupa mais usada, e tomava banho vestida.

Os fatos de banho não podiam ter menos de quinze centímetros acima do joelho.

Na foto: em baixo a tia Licas, à esquerda a minha mãe à direita a tia Xana e em cima a tia Adelina.

A preta dos amendoins.

Quem estava sentado nas esplanadas de Algés, sabia logo que ela tinha chegado.

As crianças em bando, corriam para ela e gritavam a plenos pulmões:

-Preta da Guiné lava a cara com café!!!
-Preta da Guiné lava a cara com café!!!

Ela gostava da recepção;

-Baixava-se, falava com elas, fazia-lhes festas e dava a cada criança um gordo amendoim.

Mendim-torradimmmm…. Olhá-mendim-torradimmmm:

-Pssst, quanto custa?
-Cada copo cinco estões. Bem aviado.

Era imponente, muito alta, forte, dentes muito brancos e vestes a fazer lembrar as suas longínquas origens.Na cabeça um turbante compunha a figura.
Era a “Preta dos amendoins”.

Algés

Pavilhões de Algés

Algés era em 1950 um sítio muito agradável para se viver.

Muito perto, haviam indústrias como a fábrica da pólvora de Barcarena, os cabos Ávila, a fábrica de Lusalite, que davam emprego às pessoas da terra. Na baixa de Algés, existiam três pavilhões esplanadas, que estavam sempre cheios, o Cristal, que tinha uns gelados fantásticos, o Pavilhão Verde e o Ribamar que ainda existe.

O Pavilhão Verde, era o da eleição da minha avó que tinha mesa reservada, todos os sábados e domingos. Ao vivo actuava uma Jazz-Band, onde um vocalista com voz romântica chamado Figueiredo, encantava as damas da época.

A praça de touros onde tantas vezes torci para que os toureiros levassem umas valentes cornadas, o Sport Algés e Dafundo onde aprendi a nadar, o comboio, o eléctrico e uma estrada marginal, eram alguns dos encantos da minha querida Algés.