A fotografia

Pescadinha & Zazá

Vestiram-me um vestido azul de veludo com gola branca, bordada com bolinhas azuis, vermelhas e amarelas. Em baixo, na saia, losangos de gorgorão nas mesmas cores da gola, enfeitavam um circulo branco. Atrás das costas um laço azul compunha o vestido. Nos pés meias de renda e os meus sapatos vermelhos. Prendendo os cabelos loiros, um farfalhudo laçarote.

Quando entrei no eléctrico para Lisboa, com a Zázá ao colo causei sensação. Parecia saída de um postal ilustrado!

As pessoas interagiam comigo e eu muito orgulhosa mostrava-lhes as habilidades da Zázá.

Um senhor fez-me uma festa e disse-me: – Não sei qual é mais bonita, se a dona se a boneca.

Para a posteridade ficou a fotografia.

O desgosto da pescadinha

Os meus lindos vestidos tinham desaparecido dos seus cabides. As meias de renda branca e os sapatos novos vermelhos, não estavam mais dentro da caixa e eu senti desmoronar-se todo o meu universo.

Quando a avó chegou do cabeleireiro, eu não lhe disse nada do que me ia na alma, mas sentei-me nos degraus da porta principal à espera que o avô chegasse.

Olha a pescadinha … estava à espera do avô?
 
– Corri para ele de braços estendidos e chorei o meu desgosto em altos berros no seu colo.

Primeiro apareceu a avó muito atarantada, antevendo uma queda, um braço partido, a ferroada de uma abelha e gritava: – Ai… Aiiii… meu Jesus, Virgem Maria me acuda, o que aconteceu? -Valha-me Deus.

As tias vieram a seguir, tentando compor a situação, mas eu não lhes dei chance, agarrada ao pescoço do meu avô, enchendo-o de ranho e baba gritei; – Foram as cabras… roubaram os meus vestidos todos. E a soluçar; – já nem tenho os sapatinhos vermelhos elas também os levaram.

Nessa tarde fui a Lisboa com o avô comprar roupa nova, e fui eu que a escolhi.