Nasceu em 1916, na casa da rua das Hortas em Pedrouços, perto do chafariz da princesa e a dois passos do mar.
Naquele tempo não era necessário o nome da mãe, por isso chamava-se só José Lourenço.
Cresceu como um cabrito à solta, percorrendo descalço a praia e os arredores.
Odiava sapatos, por isso escondia-os, só os calçando à tardinha, quando a fome apertava e era preciso voltar para casa.
Escola também não era com ele, não fora feito para aquele subjugar, para aquela prisão.
A professora adorava gatos, só na escola haviam cinco que a senhora estimava como filhos.
Um dia desmoralizada com a indiferença dele para com os deveres, pegou na menina dos cinco olhos e deu-lhe dez réguadas.
A resposta saiu-lhe tão rápida como as lágrimas que lhe saltaram dos olhos:
– Ganda-puta!!!
– Hás-de pagá-las!!!
No dia seguinte levou para a escola um saco de sarapilheira e assim que lhe foi possível foi juntando um a um os simpáticos gatinhos.
Mais tarde na praia, rolou diversas vezes o saco com os gatinhos lá dentro.
Quando lhes abriu o saco os animais fugiram espavoridos e nunca mais apareceram.
D. Etelvina recusou-se a tê-lo na escola, por isso foi para o mar com o pai.
Tinha dez anos.