O banho do policía

Gostava de se sentar nos bancos do jardim que ladeavam o largo da princesa, muito perto de sua casa.
Era um sitio muito fresco rodeado de árvores. No centro o chafariz, deixava correr de quatro bicas agua fresca e cristalina.
Ouvir o som da água a correr, o chilrear dos pássaros e ver as gentes que volta e meia se apeavam na paragem do eléctrico, aliado ao sabor do fumo de um cigarro, deixavam-no de bem com a vida.

Mas lidava muito mal com a frustração e quando a minha mãe não lhe aceitou o pedido de namoro, foi para a taberna “Cova Funda”, que ficava na parte de baixo do chafariz e apanhou um grande pifo.
Depois foi sentar-se na beira do chafariz da princesa a carpir as suas mágoas.

Foi quando um policia se aproximou e lhe disse:

– O senhor não pode estar aí… pode cair e afogar-se!
– E o que é que você tem com isso?
– Já lhe disse… tem que sair daí! Vá para casa…
– Para casa vá você… eu só saio daqui quando me apetecer, até lhe canto uma cantiga…

Daqui não saio daqui ninguém me tira
Daqui não saio daqui ninguém me tira

Daqui não saio daqui ninguém me tira
Daqui não saio daqui ninguém me tira

– O senhor está a gozar a autoridade, olhe que lhe dou ordem de prisão; disse o guarda agarrando-o pelo braço…
– Tire daí a manápula senão a coisa azeda!!!
E a coisa azedou mesmo, quando o guarda o puxou para que saísse. Jogou-lhe a mão à farda e arrancou-lhe os botões todos. Depois pegou no senhor guarda e deu-lhe banho no chafariz.


Foto Original de Luis Miguel Inês:http://luismiguelines.blogspot.pt/

O Cheiro do dinheiro.


Era da venda do pescado que o dinheiro entrava naquela casa. Vinha da lota em sacos de plástico transparente, todo amarfanhado e a cheirar a peixe. era preciso alisá-lo, separá-lo por valores e arrumá-lo no cofre.

Um dia o tio Victor, viu os sacos de dinheiro em cima da mesa da marquise, e não resistiu; tirou algumas notas que guardou nos bolsos das calças e do casaco. Depois foi-se embora.
Acabado o almoço, o avô deu por falta das notas, e perguntou se alguém ali tinha mexido.

Eram sete da tarde quando o Victor voltou.

Vinha a assobiar, quando o avô lhe deu um murro que o projectou para debaixo da mesa.

– Então tenho ladrões na minha casa?
– Onde é que está o dinheiro?
– Roubas-me e ainda entras aqui a assobiar!!!

Depois desapertou o cinto e o tio Victor pagou por todas.