O pedófilo

O quarto verde era o maior de todos os quartos daquela casa. Foi para lá que a tia Adelina e o “Pico” foram viver, quando se casaram. O avô comprou-lhes a mobília de quarto, e passaram a comer lá em casa.

O “Pico” arranjou trabalho na fabrica Braço de Prata, era uma fábrica, de armas e munições.

À tarde quando vinha do trabalho, trazia-me sempre ou um chocolate ou um pequeno brinquedo ou livros. Depois sentada no seu colo, eu vivia as histórias que ele me contava. Os três porquinhos, a branca de neve, o soldadinho de chumbo etc…. etc… etc… .

Quando me deixava dormir no cinema ou na esplanada, era ele que me trazia para casa ao colo. Dava-me banho, deitava-me e ensinou-me a importância de ler.

Um dia pediu-me para ir brincar com ele às escondidas para a cave.

O guarda – nocturno

Decerto nessa noite o avô foi preocupado para a faina da pesca. Em Casa deixou o tio Victor encarregue de manter os olhos bem abertos. Na rua a vigiar ficou um homem de sua confiança para ajudar no que fosse preciso.

Fora alertado pelo guarda – nocturno, que pela calada da noite alguém andava a rondar a nossa casa tendo sido visto a empurrar a janela que distava do chão pouco mais de um metro.

A janela era a do quarto verde e naquele quarto não dormia ninguém.

Os tios

O tio Victor vivia no quarto verde, e tinha debaixo da cama uma mala de madeira fechada com um cadeado. Ouvi dizer muitas vezes que ele era nervoso e enfezado, porque foi o fim do tacho… o rapar do tacho. Além disso teve tuberculose e lá em casa os irmãos a mãe e até o pai tinham para com ele uma benevolência condescendente. O rapaz gostava de noitadas, e dormia de dia. A tosse seca e persistente não o largava.

Ouvi uma vez o avô dizer á avó que tinha que se arranjar algo para ele fazer; – mas o quê? – respondeu-lhe ela. O rapaz é fraco. Ele é mas é um grande calão, respondeu-lhe ele.

O tio Victor tinha sempre dinheiro. Quem lho dava era a avó sem o avô saber e o avô também lhe dava uma semanada que ele ganhava e perdia ao jogo.