A Escritura

-Vem cá pescadinha, senta aqui ao pé do avô.

Diz-me lá uma coisa…tu eras capaz de ensinar o avô a escrever o nome?

-Qual nome?

-O meu nome!

-Mas…o Avô não sabe escrever o seu nome?

-Não…quando era pequeno tinha que trabalhar e nunca ninguém me mandou à escola, para aprender as letras. Mas agora estou a precisar de saber escrever o meu nome.
Para o mês que vem tenho a escritura de um prédio que comprei e não quero fazer figuras tristes.
Então…que me dizes?

-Está bem avô…Vou buscar um caderno, um lápis e uma caneta, que é para o Avô copiar por cima.

-Não digas a ninguém, isto é um segredo nosso. Está bem?

E todos os dias quando vinha da escola, a minha mão pequenina, pegava na mão calejada do meu Avô, ajudando-o a sublinhar com uma caneta as letras do seu nome; JOSÉ LOURENÇO.

Quando faltava uma semana para a escritura, ele já escrevia o nome sem a minha ajuda, isto é…o José escrevia muito bem mas o Lourenço é que estava mais difícil. Eu queria que ele aprendesse a escrever as letras uma a uma, mas ele disse-me que não tinha tempo porque a escritura do prédio era daí a dois dias.

Estavam todos presentes e o notário leu a escritura de compra e venda do imóvel. Todos concordaram como que estava escrito e foi pedido aos presentes que assinassem a escritura:

Primeiro os vendedores:

Depois o comprador…neste caso o meu Avô. E o JOSÉ saiu perfeito, agora o Lourenço é que foram elas:

Diz o notário ao olhar para a assinatura:

-Como é que o senhor se chama?

-JOSÉ LOURENÇO, disse o meu Avô sem se desmanchar:

-O senhor desculpe, mas aqui está JOSÉ LOU LOU.

Dessa vez a coisa não resultou e ele lá teve que voltar a assinar com o dedo. Mas foi a ultima vez que isso aconteceu, porque aprendeu rapidamente a escrever todas as letras que compunham o seu nome.

Leave a Reply