O Banho

A minha mãe vivia numas águas furtadas, com o meu pai meu irmão, com a tia Maria, o tio Américo, a prima Carminho que era mais ou menos da minha idade, cinco anos e com o primo Victor que era um pouco mais velho.

A casa era grande, embora esconsa tinha alguns quartos com pé direito alto, e um corredor em L que a dividia em duas partes. Só tinha um senão, era não haver casa de banho, apenas uma pia junto à janela da cozinha fazia a serventia de toda a casa.

Numa das vezes que eu fui visitar a minha mãe, vi pendurado no corredor um enorme alguidar de zinco, com um metro e vinte de diâmetro, o fundo em madeira e uma bica de um dos lados. Intimidada com a peça, perguntei-lhe o que era aquilo e ela respondeu-me que era para tomar banho, e acrescentou muito orgulhosa que o tinha mandado fazer de encomenda. Como eu dormiria lá nessa noite, pedi-lhe para me deixar tomar banho nele.

Como o prometido é devido, no outro dia pela manhã o meu pai tirou o monstro da parede e depois de arredarem os móveis lá o poisaram no chão. Eu assistia interessada aquela cena.

Três fogões de petróleo foram acesos…dois faziam muito barulho, o outro nem por isso; disseram-me que tinha a cabeça silênciosa.

Maria empresta-me a tua panela grande, para aquecer a água para a menina tomar banho!!

Depois das três panelas de água estarem a ferver, deitaram-nas dentro do alguidar e destemperaram com outra tantas de água fria. Entretanto eu fui buscar a Carminho para vir tomar banho comigo. As duas de cuequinhas vestidas, dentro do enorme alguidar, fizemos a festa e deitamos os foguetes. O primo Victor veio ver o que se passava e nós molhámos-o todo. Ele despiu-se e vai de cuecas também para dentro do alguidar. A risada e a água pelo chão era tanta que a vizinha de baixo gritava na escada:

-Óhhh Roosaaaaaaa!!!! Que merda é esta!!!! Tenho água a cair cá em baixo!!!

A tia Maria e a minha mãe vieram ver o que se passava. O primo Victor levantou-se rapidamente e as cuecas caíram-lhe pelas pernas abaixo ele saiu do banho a correr e nós rimos até fartar.

De outra vez tiveram que chamar o médico porque alguém estava doente.  A escada tinha uma clarabóia que deixava entrar o sol a jorros. Quando o médico entrou no corredor escuro, não se apercebeu do alguidar pendurado na parede e dá-lhe uma cabeçada que ecoa no corredor como se fosse um gongo e o homem só diz ….Chiça!!!

Era por estes e outros momentos, que eu nunca queria voltar para casa da Avó onde eram todos velhos e nunca acontecia nada de engraçado.

 

 

 

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